Decepção. São Paulo virou uma cidade de faroeste. Como nos filmes, forasteiros chegaram atirando para todos os lados. Sem se perder no roteiro, a população paulista encarnou os mexicanos. Correu para se esconder em suas casas, à espera de um salvador.
Nós paulistanos nos orgulhamos de nossa noite. Não temos praia, nem paisagens magníficas. Mas lembramos quem chega aqui, pode-se ir aos melhores restaurantes. Clubes para todos os gostos musicais. Teatros e cinemas aos borbotões. Abrimos mão de tudo isso num piscar de olhos. Fomos buscar abrigo. Fugimos daquilo que mais gostamos, por que uns marginais resolveram que a cidade não é nossa. E aceitamos passivamente, sem pensar.
Colocaram fogo em ônibus. Metralharam delegacias, bancos, postos de policia. E assassinaram. Mataram policiais, bombeiros, até guarda-florestal. Civis que os acompanhavam também foram vitimas. Não há como negar isso. Contudo, não podemos esquecer, nesta cidade, em qualquer dia, temos mais baleados que zonas de guerra no oriente médio. Dois seqüestros-relâmpago por hora. Não sei quantos assaltos, roubos e estupros. E – apesar destas ocorrências – nunca deixamos de usufruir de nosso espaço. Segunda-feira estava mais perigosa que os outros dias? Acredito que não.
A mídia tem uma parcela de culpa. Fez um circo enorme sobre estes acontecimentos. Sem esclarecer a magnitude real de tudo isso. Com seus apresentadores gritalhões, levantou a audiência repetindo as mesmas imagens, num looping terrorista.
As autoridades também são culpadas. Os recém-empossados demoraram pra mostrar as caras e acalmar à população. Colocar em perspectiva e dar segurança ao cidadão paulista. Nas eleições eles aparecerão, garantindo nosso bem-estar, pode ter certeza.
Não alivio pros moradores desta cidade e deste estado. Deveríamos ter nos organizado. Pra tomar as nossas ruas de volta. Ter organizado uma noite melhor que todas as outras. Daquelas em que se chega atrasado pro trabalho na terça. Todo mundo sair. Mostrar que não serão alguns malfeitores que irão nos fazer borrar de medo. Infelizmente foi o contrário que aconteceu. Nos borramos.
Assim demos poder pra aqueles que não deveriam ter nenhum. Mostramos que somos massa de manobra. Pronta pra ser usada. Deixamos marginais controlar nossas ações. A cidade apressada, a locomotiva do país, a terra da garoa parou. Virou refém, sem ao menos tentar resistir.
Isso tudo foi muito triste pra mim. Paulista e paulistano com orgulho de ser. Não acreditava que covardia fosse uma característica de meu povo. Um dia pra esquecer.
depois de velho, continuou tarado.
quarta-feira, maio 17, 2006
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7 comentários:
nice blog!
É verdade, deu vergonha de ser paulistano. Mas esse seu texto me deixou um pouco mais esperançosa em relação a quem mora nessa cidade...
Parabéns pelo texto.
Palavras fortes e tristes, porém verdadeiras.
Rodrigo Garcia, recifense que mora há 15 anos em São Paulo, adora a cidade e tenta não se acovardar.
oi!
esse seu post foi um dos melhores q li até agora sobre a segunda-feira negra aí em sampa.
muito interessante..
Não é só coisa de paulistano, não. Em São Carlos (e várias outras cidades do interior do estado), aconteceu a mesmíssima coisa. Pior: aqui não foi nem 5% do que foi aqui, ou seja: o povo daqui é muito mais covarde, ridículo e burro.
correção: aqui não foi nem 5% do que foi AÍ.
[:)]
um sorriso pros seus comentarios assim tão doces! [:)] mais um.
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