Quando ando de metrô, gosto de sentar naqueles bancos que ficam paralelos ao sentido que o trem viaja. Assim, num virar de cabeça consigo observar todos que estão dentro do vagão. Na linha nova – que costumo utilizar – estes assentos não são em duplas, como nas vias antigas. São unitários. Parece que está de castigo. Ouço a conversa das senhoras, fico de olho nas garotas bonitas, evito contato com os homens e não perco minha estação.
Ontem consegui sentar neste banco. Foi fácil, nem sempre é assim. Era começo da noite. Como estamos no período de férias, o trem estava vazio. Só um cara lá no fundo, que parecia bêbado. E eu. Até que entrou uma morena.
Sentou bem na minha frente. Acho que queria ficar longe do outro sujeito. Usava uma camisetinha apertada, branca e cheia de rendinhas. Uma calça marrom, também justinha. Carregava uma sacola de compras com um logotipo de grife e uma pequena bolsa de mão. Dessas novas que parecem antigas.
As portas fecharam, o metrô continuou seu curso. Ela abriu a bolsetinha e tirou de dentro um saco de papel branco. Olhou para os lados. O bebum continuava no mesmo lugar e eu disfarcei que não observava. Voltou o olhar para o conteúdo do embrulho alvo. Abriu devagar. Firmou os olhos. Lambeu os beiços. O trem parou. Ela fechou de novo o embrulho.
Entrou uma senhora que sentou lá atrás. Um negro grande que ficou de pé na porta, no meio do vagão. O apito e as portas fecham. Novamente estamos em movimento.
Quem tenta disfarçar agora é ela. Fingindo que não, ela dá uma geral nas pessoas novas do vagão. Se ela tivesse escolhido o assento correto seria mais fácil esconder. Sentada naquele banco, todo mundo percebeu que ela ocultava algo.
Terminada a inspeção, ela abre vagarosamente o saco de papel. Engole seco. Enfia a mão dentro. Com os olhos cada vez mais arregalados, vem retirando devagar e o seu conteúdo. Apesar do invólucro ser pequenino, o que sai dali tem um tamanho considerável. Um grande kibe.
Fim do suspense. Os movimentos agora são ágeis. Assim que saiu do saco branco, o bolinho de carne moída levou uma grande mordida na sua ponta. Rapidamente, sem que o pobre pudesse reagir, ela espreme limão na ferida do moribundo acepipe árabe. Mordendo-o três vezes sem intervalos. Nchac, nchac, nchac!
O azedo numa mão. O salgado na outra. Usa o primeiro para molhar o segundo. Nunca vi tanta habilidade no manejar. Um, dois, nchac! Um, dois, nchac! O general Patton lhe ensinou a comer kibe, pelo jeito.
Zás e o mouro virou bolo alimentar. O metrô faz mais uma parada. As portas abrem e ela corre para a saída. Sem encarar ninguém, olhando para baixo, como se tivesse envergonhada. Ela passa do meu lado e ainda sinto o cheiro da carne em sua boca.
Sem dúvida, estava no camarote vip do metrô.
depois de velho, continuou tarado.
sexta-feira, janeiro 06, 2006
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Um comentário:
sensacional.
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