depois de velho, continuou tarado.

segunda-feira, junho 13, 2005

Azul.


- azul profundo -

Aquele bar estava chato. Igual sempre. Eles tomavam cerveja. Eu coca-cola. Com muito gelo. Meu passado de ex-alcoólatra me condena. Já passava da uma. A noite caminhava para a mais medíocre normalidade.

Traços suaves. Loirinha. Sorriso tímido. Voz baixa. Senta ereta. Uma bonequinha de porcelana, diria minha avó. Nunca vi um copo de cerveja ser levantado com tanta gentileza. Do nada, apareceu. Irmã da amiga de uma amiga. Sem ter o quê fazer. Ligou. Vem, disseram. Veio. Ajeitou-se na minha frente. Meu olhar achou um ninho.

Ela não falava muito. Mas falar pra quê? Todos ali na mesa já queriam comê-la. Inclusive as mulheres, que eram maioria. Sua atenção era disputada. Oásis no deserto. O que você faz? Onde trabalha? Que música escuta? Tem namorado?

Não era uma daquelas mulheres feitas. Modernas. Bem sucedidas. Com um belo salário. Tinha um frescor. Muitas dúvidas. Uma ingenuidade agradável. Sem dúvida, em breve, o mundo a tornaria. Algum idiota vai ensiná-la a odiar homens. Emprego será mais importante que o resto. Porém, esta noite ainda não. Uma flor assim é rara.

Competição não é pra mim. Fiquei na minha. Olhando. Sabia que ninguém ali ia conseguir nada. Muita areia. Minha caçamba não agüenta. Vou aproveitar aqueles raros momentos de sua presença. Sorver cada movimento. Ela nunca mais voltará para este bar decadente. Sujo. Frank Sinatra em Cubatão. Uma vez na vida.

Cerveja é diurética. Banheiro inevitável. Levantou com classe. Meu olhar em câmera-lenta. Levantou sem dizer nada. Levantou com calma. Levantou apoiando as mãos na mesa. Levantou com um sorriso. Levantou e mostrou um pedaço da calcinha. Azul.

Entrou pela porta elas. O tédio foi junto. Minha noite estava ganha. Podia ir pra casa. Não conseguiria dormir. Este pedaço de tecido que vai ficar na minha imaginação. Atrapalhar meu sono. Dominar minha mente.

Eu vi.
Vi aquela peça azul que não combinava com nada mais que ela usava.

5 comentários:

André disse...

e pode apostar que quem vai lhe dizer para odiar os homens é justamente quem quer comê-la.

floratomo disse...

gomes, gomes...

Anônimo disse...

Meu olhar encontrou um ninho...

Adorei! Pervertido mas com inocência.

PS: Passa lá, tirei as teias, só ficou a aranha. Até ela voltar a trabalhar.

Anônimo disse...

muita areia pra sua caçamba com certeza

GOM disse...

Sim, foram estas as palavras que usei.