depois de velho, continuou tarado.

domingo, maio 01, 2005

Sinuca.


- ela não estava lá -

O dono é boliviano. Última mesa livre. Parece boliviano. Pedimos bolas numeradas. Apelidamos de boliviano. Sempre jogamos aqui.

Escolho o primeiro taco que pego. Testo ele na mesa. Parece O.K. Me sinto estranho. O lugar está cheio. A música alta demais. As pessoas falando demais.

O jogo começa. Ele sempre mata as primeiras bolas. Isso não me preocupa. Chegam uns caras. Ficam esperando uma mesa vagar. Esperando e olhando o nosso jogo. Estou jogando mal. Muito mal. Preciso me concentrar. Escuto eles sussurrando risadas. Será que estes chupadores-de-pica não podem olhar para o outro lado?

Bola fácil. Errei. Na boca. Errei. Só uma casquinha que entra. Errei. Bate de leve. Errei. Com força, ela cai. Acertei. Mas a branca vai junto...

Concentração.
Eu entrei, minha cabeça ficou do lado de fora.


No som, uma rádio de clássicos. Ao meu lado, um cara que sabe todas as músicas de cor. E faz questão de mostrar. Não contente em cantar, imita os trejeitos. Bowie, Page, Osbourne, Mercury, Hendrix, Plant. Amaldiçôo todos! Por que rock star faz tantas firulas? Qual o telefone desta rádio? Vou ligar e pedir uma música que ele não conheça!

O taco espanou. Falta giz. Espanou de novo. Giz. Mais giz. Vocês já escutaram um taco espanar? O barulho é horrível. O som do fracasso deve ser este. Na terceira vez, é pior ainda. Será que passei giz demais?

Moleque. 18 anos. 150 quilos. Se ele parar de comer hoje, tem calorias suficientes para viver os próximos dezoito anos. Que andar patético. Não sei o que é pior, quando ele está sentado ou de pé. Não, já sei! O pior é o meio do caminho. Quando se levanta ou senta. Ver aquela banha toda se acomodar, procurar espaço, balançar, a força para sustentar, procurar um apoio. Este sujeito deveria praticar outro esporte.

Bola branca. Já perdi a conta de quantas vezes encaçapei. Acho que as caçapas ficam maiores quando vêem a cor branca.

Cabeça pequena. Corpo grande. Loira. Que figura estranha. Tem um belo corpo. Pernas grandes, peitos grandes. Alta. Porém, uma cabecinha. Minúscula. Parece que fizeram voodoo com ela. E daquela mini boca só poderia sair uma voz irritantemente aguda. A desproporção dela atrapalha meu jogo profundamente.

Zen. Preciso ser. Respirar fundo. Lembrar da Hortência no lance-livre. Soltar o ar. Procuro o silêncio na algazarra. Fechar os olhos e puxar o ar. Cheiro de batata frita. Oleosa. Foi o pequeno elefante que pediu?

Com as bolas pares. Derrota.
Com as bolas impares. Derrota.
Perdi todas as partidas.


Jogamos uma hora. Vamos jogar mais uma? Nem a pau! Quero sair correndo daqui. Pode ficar com o troco.

Fora. Ar. Livre. Garoa.

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