depois de velho, continuou tarado.

sábado, abril 23, 2005

Invenção espacial.


- vila madalena ou paraíso? -

Jogo subterrâneo. Ele entra no metrô pela Praça Patriarca. Desce as escadas. Está na estação Paraíso. Sofre uma decepção. Anda pela Tiête. Tudo como se fosse uma seqüência.

O casamento de Romeu e Julieta. A torcida do Corinthians está no Pacaembu. A do outro time, no Parque Antárctica. O jogo é um só.

Na poltrona de trás cochicham “erro, erro, erro.”. Nas da frente gritam “erro, erro, erro.”. Vão estudar cinema! Eu penso.

A linguagem cinematográfica permite a criação de espaços geográficos. Esta é justamente uma das magias da sétima arte. Filmar o plano num lugar. O contraplano em outro. De preferência num dia diferente também. Na sala de edição eles se unem. Parece uma conversa real.

E daí que eu conheço o metrô e o Pacaembu? Na França eles nem vão notar. Nem preciso ir tão longe. No Rio de Janeiro eles não devem ter notado. O filme não foi feito sob medida para você. Pare de pensar com o seu umbigo.

Esta criação de espaços que não existem pode ser proposital ou acidental. Quem já filmou sabe. Muitas vezes não dá pra se filmar com a realidade. O tempo não permite, ou a produção, ou o espaço. Não fosse este subterfúgio muitas histórias não sairiam do papel.

A Invenção da montagem deu ao cinema uma linguagem. Que entre outras coisas, nos permite brincar com o tempo – um minuto pode durar trinta – ou com o espaço – como neste caso. Não esperneie ao ver estes filmes. Seria como brigar com um pintor por usar o pincel.

Não vou esconder. Estes filmes não são perfeitos. Têm erros. Mas nenhum deles é este.

[publicado em 11/04 no multiply]

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